quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Odantalan

Projecto de intercâmbio cultural cujo objectivo é aceder à herança cultural e espiritual angolana desde o período do reino do Manikongo até ao presente.

Músicos, compositores, historiadores de arte e antropólogos de Angola, Cuba, Colômbia e Brasil trabalham conceitos de filosofia e sistemas de conhecimento Kongo/Angola como pontos de partida para novos processos de criação.

Trabalham em torno de conceitos como o de Dikenga, o cosmograma Kongo, e executam-se interações entre si promovendo encontros e relações entre a Marimba de Angola com a Marimba do pacífico, o berimbau do Brasil com o Ungo de Angola. O Kissange angolano e o semelhante colômbiano Marimbula. Sugerindo a metamorfose dos instrumentos a longo da história da travessia entre África e Américas.

Exercem uma reflexão sobre os sistemas de escrita gráfica na África Central, aquilo que em Cuba se chamam "firmas" e em África se chama "Bidimbu". A necessidade de aceder à herança espiritual que funcionou como plataforma de resistência, sobrevivência e negociação de um espaço forjado apesar das provações da escravatura e do colonianismo.

PALO MONTE | religião trazida pelos Bakongo para Cuba, a partir das florestas do Mayombe.

POVO BAKONGO
Na era da escravatura trouxe uma nova cultura e novo sistema de crenças para as ilhas das Caraíbas. Os Bakongo provêm da civilização Kongo que dominou a maior parte da África Central do Séc. XII até finais do séc. XIX. Este reino depois de conquistar inúmeros povos da região, alimentou durante mais de quatro séculos o tráfico de escravos. Estima-se que cerca de um milhão tenha sido levado para Cuba.

Os bakongo sobreviventes encontram-se hoje na Angola dos nossos dias, nas Républicas do Congo e no Gabão.

FIRMAS - forma de comunicação visual que integra sistematicamente uma variedade de elementos escritos distintos. Há quem defenda que têm origem nos Bidimbu da África Central.
Corporizam a partilha de um complexo código de conhecimentos culturais e são usadas num contexto ritual como forma de adivinhação e comunicação entre os praticantes das religiões Kongo em Cuba.
São utilizadas no contexto de objectivos religiosos designados "Minkisi" na África Central e "Prendas" em Cuba. Figuras tridimensionais que são recipientes onde se inscrevem conceitos filosóficos e forças espirituais representadas e invocadas através da assinatura.
O próprio sistema será visto como uma forma de arte, possuidor de poder semântico, veículo de ideologia, e como um dispositivo estratégico fulcral e central para o povo bakongo e seus descendentes no novo Mundo.
Estão baseados na urgência da comunicação espiritual entre forças humanas, naturais e ancestrais. Revelam conhecimentos sobre a origem da vida, a criação do homem e Deus. É uma escrita de veneração, expressão, e de metamorfose.

VER: Robert Farris Thompson; The four moments of the Sun. e Clementine Faik-Nzuki; African arts: Signs and Symbols.

FORMA
Um sistema coerente de assinaturas regista uma sucessão de pistas visuais directamente relacionadas com uma espécie de linguagem corporal e pode portanto considerar-se como componente gráfica, ou contraparte, da expressão musical e verbal. A forma que a expressão assume é a da arte, assentando o seu valor no tratamento estético de importantes temas sociais e religiosos.

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